Reina gran confusão no estaminé: Bufa o gato, espartiça-se o copo, tropeça a padeirinha. Pois é, qualquer dia parte um pé! - O crava Rogélio, desvivendo cintilações a ido milénio do pasmo, em anti-diplomáticas abordagens, a mim consegue palmar-me um por semana. Vai contando com o desvelado aconselhamento anímico de gentis, humaníssimas psicólogas: O fi de puta! A intempestiva hora entra no Caffè. Ante o primeiro cliente especa, e, boçal, dispara: ‘Posso pedir-le um cigarrinho?’ - Selectas bocas ouvem até descortinarem a última anedota. Tarde e a más horas entram a estúdio os porreiros artistas. Após triviais palmadinhas em costas camaradas, ao maestro a mandam. - Aquela cientista inglesa viveu, anos 60, no Quénia, rodeada por tigres, chitas, leões, árduos felinos. Um leopardo rebelde, a quem intimamente temia, embora desde sempre predilecto, deglutiu-a. - Após imprevista chuva, gorjeios, luz nua, cheiro a algas, maresia. - Sussurram ventanias uivo inóspito; reverdece linguagens farta relva. - ‘A ignorância humana dá ideia do Infinito…’ Puxou o autoclismo? Não ouviu, por acaso? Aquele autoclismo deve andar mesmo silencioso. Praza a Deus que esqueça, suspenso p’lo madrugar aclarado. - Domingo passado, surpreendemos o Conservador Municipal, abancado mais sua senhora, na esplanada duma geladaria da baixa, devorando, em vítrea taça, a colheradas, envergonhado gelado. - O Silva contador não suporta vozearia. A tarde toda passou nas demoradas leituras das contas EDP. O rock, a nicotina, a cafeína, com garotas noutra curte. - Impertinente saudade: És tu a garota de Ipanema, que vens bamboleando-te azougada p’lo Vieux Port? Oh, esta saudade, o vago, e o distante, sonhando música nos teus passos, enredosa fantasia. Longe a orla dourada pátria claridade. - Canto à Empresa Carlos Costa a obra vai pra uma década começada, porque a acompanhei com vida, dia após dia subindo ante a janela aberta ao sonho do meu nada. Ao raiar a clara madrugada, o operário arremete a Ernesto o tasco. Pão quotidiano, vulgo carcaças, se demanda. Café é elemento comum amanhecido. A qualquer hora que fosse, que me fumasse pensativo, debruçando-me sobre o alpendre perto, pacíficos agentes nua evidência alevantavam. À força de pás os lixos removidos, guindaste a topo alçando torpe matéria, descidas e subidas ensaiando, terraço, escadaria, sótão, revestimento, azulejos, andaimes, infindos afãs que vislumbrei. Falou Leandro que um ano ao prédio falta. O andar-modelo propõe que sonde esplendoroso. Erguida a céus a torre bloco do melhor sol rouba, que em Acapulco alguém devera me repor, pra atenuar exílios, em que há tempos ando, nuns versos soterrado.
Jamais acabaremos de explicitar o claro dia. O pai divorciara-se, e vivia em Faro. Ele seguia por toda a parte a João Paulo II. Incompatibilizara-se com um tio seu, com quem frequentemente se cruzava. Como retomar diálogo? Não que se ralasse, sentia-se abalado. Não só as catedrais encantam o esparzido mirar, também o que em nós vive e não se diz. - Quanto começou com Feuerbach: Revolvido o livro, assinalou-se dúbia passagem. Os filhos da terra arrebatavam a eterna escritura. Chegara o tempo, cada gesto era inaugural. Submersa continuou a subterrânea oração. Houvera em campo aberto peleja desigual. E o humano Cristo se deu ao terrestre sentido. - Fomos ver aquele lugar de destino, maior do que a princípio parecera. Trama ter que mudar mais coisas do que contávamos. Até os filtros do fumo sobrecarregam bagagem. Mais a metálica alvura do PC. Quando remexemos haveres, ficamos com a impressão de que uns quantos faltam, até porque não damos fé deles com a banal sequência. - ‘Projecto de sucessão…’ Continuar de pé até que pombas dos meus olhos voem. Continuar dormindo até se regelarem os dedos. Continuar rezando até que o tempo finde. Continuar esperando que o café feche. Continuar despido até que o colchão navegue. Continuar escrevendo até que o papel acabe. Continuar apaixonado até que o mundo acorde. Continuar sonhando até que morto durma. Continuar delirando até se incendiarem órbitas. Continuar ladainhas até que o cérebro estale. Continuar a acompanhar o derrube dos tiranos. Continuar iluminado até que a maluqueira pare. Continuar chorando por um miosótis encarnado. Continuar a ateimar no trevo das quatro folhas. Continuar a seguir a rota da estrela cadente. Continuar a guardar no coração cintilações natalícias. Continuar a procurar um piolho estrelinha na cabeça rachada do Menino Jesus. Continuar a arriscar vermelho branco. Continuar sangrando até se esgotar a água. Continuar boiando até que o sangue estanque. Continuar a coçar minha jubilosa ferida. Continuar a prolongar o gélido chuveiro. Continuar a adorar a mulher artimanha. Continuar a andar sobre escombros lua. Continuar sentado até os pés da cadeira enraizarem. Continuar a dar corda a relógios que ninguém olha. Continuar auscultando especial música. Continuar a elucubrar invariáveis linguagens. Continuar a cantarolar o milagre da vida. Isto e muito mais até que o paizinho evapore. Isto e muito mais até que a paz floresça.
Companheiro, come pão com tua mão. Teu pão é pão de irmão. Come pão, parte pão, parte, reparte com teu irmão. Que pão é pão de irmão: Pão é pão igual para ti e para irmão. - Antemanhã: Pousa um bufo-real a meio metro de mim, fita-me dum pranto fundo, familiar há milénios luz pelas cercanias, olha-me, e ameaça; abertas a ele as portas do meu coração, voa de dentro de meu peito forte para a liberdade farpada do arame que nos fere; nítido ainda o registo em foto flash, a devorar-me os olhos morte na noite prolongada. - Não se julgue que não é cão, porque cão mesmo é, ao nível do chão, captado por seu Ochoa dono, com zoom máximo e flash Sony, ao nível mesmo mais são do pobre chão. «Sai depressa cão deste poema…» Mas cão não é nem nunca será macacão. - Simples palavras digam certas tal-qualmente coisas a estudar sempre aí ante a tua livre mente. Outras sonhadas palavras digam com rigor fulgente. - Um dia um saltimbanco assaltou banco. Sobe a um banco, e grita: Isto é um assalto! Chega GNR, prende saltimbanco. Nunca mais saltimbanco assaltou banco - Prego no chão. Pede rapagão. No chão? Inquire garçon. Para meu cão. Insiste rapagão. (Com palavrão se entretém solidão de cão.)
Reina gran confusão no estaminé:
ResponderEliminarBufa o gato, espartiça-se o copo, tropeça a padeirinha.
Pois é, qualquer dia parte um pé!
-
O crava Rogélio, desvivendo cintilações a ido milénio
do pasmo, em anti-diplomáticas abordagens,
a mim consegue palmar-me um por semana.
Vai contando com o desvelado aconselhamento anímico
de gentis, humaníssimas psicólogas: O fi de puta!
A intempestiva hora entra no Caffè.
Ante o primeiro cliente especa, e, boçal, dispara:
‘Posso pedir-le um cigarrinho?’
-
Selectas bocas ouvem
até descortinarem a última anedota.
Tarde e a más horas entram a estúdio os porreiros artistas.
Após triviais palmadinhas em costas camaradas,
ao maestro a mandam.
-
Aquela cientista inglesa viveu, anos 60, no Quénia,
rodeada por tigres, chitas, leões, árduos felinos.
Um leopardo rebelde, a quem intimamente temia,
embora desde sempre predilecto, deglutiu-a.
-
Após imprevista chuva,
gorjeios, luz nua, cheiro a algas, maresia.
-
Sussurram
ventanias
uivo inóspito;
reverdece linguagens
farta relva.
-
‘A ignorância humana dá ideia do Infinito…’
Puxou o autoclismo?
Não ouviu, por acaso?
Aquele autoclismo deve andar mesmo silencioso.
Praza a Deus que esqueça,
suspenso p’lo madrugar aclarado.
-
Domingo passado,
surpreendemos o Conservador Municipal,
abancado mais sua senhora, na esplanada
duma geladaria da baixa, devorando, em vítrea taça,
a colheradas, envergonhado gelado.
-
O Silva contador não suporta vozearia.
A tarde toda passou nas demoradas leituras
das contas EDP.
O rock, a nicotina, a cafeína, com garotas
noutra curte.
-
Impertinente saudade:
És tu a garota de Ipanema,
que vens bamboleando-te
azougada
p’lo Vieux Port?
Oh, esta saudade, o vago, e o distante,
sonhando música nos teus passos,
enredosa fantasia.
Longe a orla dourada
pátria claridade.
-
Canto à Empresa Carlos Costa
a obra vai pra uma década começada,
porque a acompanhei com vida,
dia após dia subindo ante a janela
aberta ao sonho do meu nada.
Ao raiar a clara madrugada,
o operário arremete a Ernesto o tasco.
Pão quotidiano, vulgo carcaças, se demanda.
Café é elemento comum amanhecido.
A qualquer hora que fosse,
que me fumasse pensativo,
debruçando-me sobre o alpendre perto,
pacíficos agentes nua evidência alevantavam.
À força de pás os lixos removidos,
guindaste a topo alçando torpe matéria,
descidas e subidas ensaiando, terraço, escadaria,
sótão, revestimento, azulejos, andaimes,
infindos afãs que vislumbrei.
Falou Leandro que um ano ao prédio falta.
O andar-modelo propõe que sonde esplendoroso.
Erguida a céus a torre bloco do melhor sol rouba,
que em Acapulco alguém devera me repor,
pra atenuar exílios, em que há tempos ando,
nuns versos soterrado.
Jamais acabaremos de explicitar o claro dia.
ResponderEliminarO pai divorciara-se, e vivia em Faro.
Ele seguia por toda a parte a João Paulo II.
Incompatibilizara-se com um tio seu,
com quem frequentemente se cruzava.
Como retomar diálogo?
Não que se ralasse, sentia-se abalado.
Não só as catedrais encantam o esparzido mirar,
também o que em nós vive e não se diz.
-
Quanto começou com Feuerbach:
Revolvido o livro, assinalou-se dúbia passagem.
Os filhos da terra arrebatavam a eterna escritura.
Chegara o tempo, cada gesto era inaugural.
Submersa continuou a subterrânea oração.
Houvera em campo aberto peleja desigual.
E o humano Cristo se deu ao terrestre sentido.
-
Fomos ver aquele lugar de destino,
maior do que a princípio parecera.
Trama ter que mudar
mais coisas do que contávamos.
Até os filtros do fumo sobrecarregam bagagem.
Mais a metálica alvura do PC.
Quando remexemos haveres,
ficamos com a impressão de que uns quantos faltam,
até porque não damos fé deles com a banal sequência.
-
‘Projecto de sucessão…’
Continuar de pé até que pombas dos meus olhos voem.
Continuar dormindo até se regelarem os dedos.
Continuar rezando até que o tempo finde.
Continuar esperando que o café feche.
Continuar despido até que o colchão navegue.
Continuar escrevendo até que o papel acabe.
Continuar apaixonado até que o mundo acorde.
Continuar sonhando até que morto durma.
Continuar delirando até se incendiarem órbitas.
Continuar ladainhas até que o cérebro estale.
Continuar a acompanhar o derrube dos tiranos.
Continuar iluminado até que a maluqueira pare.
Continuar chorando por um miosótis encarnado.
Continuar a ateimar no trevo das quatro folhas.
Continuar a seguir a rota da estrela cadente.
Continuar a guardar no coração cintilações natalícias.
Continuar a procurar um piolho estrelinha
na cabeça rachada do Menino Jesus.
Continuar a arriscar vermelho branco.
Continuar sangrando até se esgotar a água.
Continuar boiando até que o sangue estanque.
Continuar a coçar minha jubilosa ferida.
Continuar a prolongar o gélido chuveiro.
Continuar a adorar a mulher artimanha.
Continuar a andar sobre escombros lua.
Continuar sentado até os pés da cadeira enraizarem.
Continuar a dar corda a relógios que ninguém olha.
Continuar auscultando especial música.
Continuar a elucubrar invariáveis linguagens.
Continuar a cantarolar o milagre da vida.
Isto e muito mais até que o paizinho evapore.
Isto e muito mais até que a paz floresça.
Companheiro,
ResponderEliminarcome pão
com tua mão.
Teu pão
é pão de irmão.
Come pão,
parte pão,
parte, reparte
com teu irmão.
Que pão
é pão de irmão:
Pão
é pão igual
para ti
e para irmão.
-
Antemanhã:
Pousa um bufo-real a meio metro de mim,
fita-me dum pranto fundo,
familiar há milénios luz pelas cercanias,
olha-me, e ameaça;
abertas a ele as portas do meu coração,
voa de dentro de meu peito forte
para a liberdade farpada do arame que nos fere;
nítido ainda o registo em foto flash,
a devorar-me os olhos morte
na noite prolongada.
-
Não se julgue que não é cão,
porque cão mesmo é,
ao nível do chão,
captado por seu Ochoa dono,
com zoom máximo e flash Sony,
ao nível mesmo mais são do pobre chão.
«Sai depressa cão deste poema…»
Mas cão não é nem nunca será macacão.
-
Simples palavras digam certas tal-qualmente
coisas a estudar sempre aí ante a tua livre mente.
Outras sonhadas palavras digam
com rigor fulgente.
-
Um dia
um saltimbanco
assaltou banco.
Sobe a um banco, e grita:
Isto é um assalto!
Chega GNR,
prende saltimbanco.
Nunca mais saltimbanco
assaltou banco
-
Prego no chão.
Pede rapagão.
No chão?
Inquire garçon.
Para meu cão.
Insiste rapagão.
(Com palavrão se entretém solidão de cão.)