Aqui o quente Inverno, povoado por luzeiros, memórias de alegria. Resolve-se o poema a rítmico bater dos corações. Habita o ar vazio e raro, trazendo montanhas, transido de infinito. Morro a saudade, complexa fantasia. Foge a vida, precário estou, a lumes sublevado, dócil a musicais tarefas: Tudo, pra lá do amor bom, o vinho tinto, o verso cheio, a dura cama, o sobrado deslumbre, a boa boda. - O filho errante a casa volta; do pai, que sempre o esperou, tem abraço e perdão bom que nem mel, a escancarar amanhãs. - Enquanto cristãos, budistas, judeus, muçulmanos clamam paz, tenebroso repórter, aviadas trouxas, engenhos prontos, vai pra noticiar in loco artilharia; a seu recanto fugida uma criança enlevos teima, fazendo terços com aramezinhos, e missangas; dia após dia, burocratas abancados, p’lo inóspito café, mobilizamos fúrias imperturbáveis, ante imprensa, a inquirir terror. - Réstia no cinzento cimento, a alface, carícia a exilado. - Após decepcionantes ilusões retorno a sonegado sabor vivido. - Dar-me à manhã, crescendo magoada saudade; dar-me a caminho aclarado p’lo ar do teu olhar; dar-me à poesia, flor lancinante. - Animal ferido, a guerra deixou-te só, mas alentaste-te descansado. - Dócil à vontade maior, acolhesTe o Sopro Fecundante. Pobre cristão, Te frequente Escola, e Te imite, Miriam, em rota pra O Pórtico. - ‘Saciado com a flor da farinha e o mel dos rochedos…’ Livre como um passarinho me desejaria… - Hoje é sábado ou domingo? Aéreas pedras, árvores, aves transmutam-se oração. Alguém permanecerá indiferente ante tal Eclosão, divino amor? Uma rosa arde do íntimo mundo; boca para a palavra, desflora intocável completude. Não, nada dizer, antes ser: Se evolar alma. O eterno dorme no verso, que rima com Maria, Mãe e Fim.
www.angeloochoa.net disse... O super-criativo dramaturgo dos entremezes na hora misturou dinheiro com borboletas, entenda-se actores falhados, recém-formados no Conservatório, alimentando milhentas goradas ilusões, Cristo, Benigni, Buda, Fellini, Kafka, Saramago e Dario Fo. Ilusionista, minimalista, sensacionalista fez as personagens comer montes de erva sacando-as à insídia tabagista. Enfim reconhecido por Hollywood e Academia, que tais momos símios reabilitou. Outrora pelo foro médico declarado somente esquizofrénico-paranóide de discurso alucinatório ilógico, ao lhe perguntarem insistentemente se ouvia vozes respondia sempre: Não, não, infelizmente não ouço! Montou, explicamos, super espectáculo exótico: Arranjou uma carrinha com articulações bizarras, foi conquistando mundo, Leste dentro, enquanto Sua Santidade peregrino conseguia avanços diplomáticos, que contribuíam para sucessivos degelos entre fundamentalistas ortodoxos para não mencionar dinossauros marxistas. Estrondoso êxito ante barbárie, autêntica festa, misto de sonho e loucuras delirantes: Estrelas decadentes com luzeiros e fogo soprado, sobremaneira convincentes prà óptica do Deus pasmado. Achou um jeito seu, animista, de tratar reluzir, odores, super atletas, marcações, actores desdobrando-se em contorcionismos, improvisos, arranques, imprevistos malabarismos. Não que fosse propriamente circo ou ópera bailada, mas inédito festival. Conseguiria obter forçosamente universal aplauso, uma vez que movia quanto mais primitivo há no humano fenómeno. Autêntico iluminista místico e malabar, suposto autor realizador filósofo encenador, alongou devaneios após devaneios, decénios após decénios, no comummente designado intermédio pós modernidade. Acabou por colher louros impossíveis, estatuetas áureas, Pulitzer, Nobel. Criança que mais não desejava senão ouvir pássaros, na manhã, a louvar infindavelmente. - Jogue-se a céu aberto futebol: Seja o imenso estádio, estrondosamente iluminado, indefinidamente prolongada festa, que os canais televisivos dêem em directo. - Canto da mulher em Aoxa: Em Aoxa sou feliz pois ando com quem muito bem quero. Todos os dias trabalho com o meu asno transportando víveres. Podem filmar para a Euronews que em Aoxa sou feliz. Digam que é vida menor a paisagem destes dias, que aqui não passou o tempo… Que em Aoxa sou feliz. Vem, burrinho amigo, não trates com à vontade com os humanos. Passaste um dia sobrecarregado, mas já vem aí o nosso homem. Recolhamo-nos à casa.
Aqui o quente Inverno,
ResponderEliminarpovoado por luzeiros,
memórias de alegria.
Resolve-se o poema
a rítmico bater dos corações.
Habita o ar vazio e raro,
trazendo montanhas, transido de infinito.
Morro a saudade, complexa fantasia.
Foge a vida, precário estou,
a lumes sublevado,
dócil a musicais tarefas:
Tudo, pra lá do amor bom,
o vinho tinto, o verso cheio,
a dura cama, o sobrado deslumbre, a boa boda.
-
O filho errante a casa volta;
do pai, que sempre o esperou,
tem abraço e perdão
bom que nem mel,
a escancarar amanhãs.
-
Enquanto cristãos,
budistas, judeus, muçulmanos clamam paz,
tenebroso repórter, aviadas trouxas,
engenhos prontos,
vai pra noticiar in loco artilharia;
a seu recanto fugida uma criança enlevos teima,
fazendo terços com aramezinhos, e missangas;
dia após dia,
burocratas abancados, p’lo inóspito café,
mobilizamos fúrias imperturbáveis,
ante imprensa,
a inquirir terror.
-
Réstia
no cinzento
cimento,
a alface,
carícia
a exilado.
-
Após decepcionantes ilusões
retorno a sonegado
sabor vivido.
-
Dar-me à manhã,
crescendo
magoada saudade;
dar-me a caminho
aclarado p’lo ar do teu olhar;
dar-me à poesia,
flor lancinante.
-
Animal ferido,
a guerra deixou-te só,
mas alentaste-te
descansado.
-
Dócil à vontade maior,
acolhesTe
o Sopro Fecundante.
Pobre cristão,
Te frequente Escola,
e Te imite,
Miriam,
em rota
pra O Pórtico.
-
‘Saciado com a flor da farinha
e o mel dos rochedos…’
Livre como um passarinho
me desejaria…
-
Hoje é sábado ou domingo?
Aéreas pedras, árvores, aves
transmutam-se oração.
Alguém permanecerá indiferente
ante tal Eclosão, divino amor?
Uma rosa arde do íntimo mundo;
boca para a palavra,
desflora intocável completude.
Não, nada dizer, antes ser:
Se evolar alma.
O eterno dorme no verso,
que rima com Maria,
Mãe e Fim.
www.angeloochoa.net disse...
ResponderEliminarO super-criativo dramaturgo dos entremezes na hora
misturou dinheiro com borboletas, entenda-se
actores falhados, recém-formados no Conservatório,
alimentando milhentas goradas ilusões,
Cristo, Benigni, Buda, Fellini, Kafka, Saramago e Dario Fo.
Ilusionista, minimalista, sensacionalista
fez as personagens comer montes de erva
sacando-as à insídia tabagista.
Enfim reconhecido por Hollywood e Academia,
que tais momos símios reabilitou.
Outrora pelo foro médico declarado somente
esquizofrénico-paranóide de discurso alucinatório ilógico,
ao lhe perguntarem insistentemente se ouvia vozes
respondia sempre: Não, não, infelizmente não ouço!
Montou, explicamos, super espectáculo exótico:
Arranjou uma carrinha com articulações bizarras,
foi conquistando mundo, Leste dentro,
enquanto Sua Santidade peregrino
conseguia avanços diplomáticos,
que contribuíam para sucessivos degelos
entre fundamentalistas ortodoxos
para não mencionar dinossauros marxistas.
Estrondoso êxito ante barbárie,
autêntica festa, misto de sonho e loucuras delirantes:
Estrelas decadentes com luzeiros e fogo soprado,
sobremaneira convincentes prà óptica do Deus pasmado.
Achou um jeito seu, animista, de tratar reluzir,
odores, super atletas, marcações, actores
desdobrando-se em contorcionismos,
improvisos, arranques, imprevistos malabarismos.
Não que fosse propriamente circo ou ópera bailada,
mas inédito festival.
Conseguiria obter forçosamente universal aplauso,
uma vez que movia quanto mais primitivo há no humano fenómeno.
Autêntico iluminista místico e malabar, suposto autor realizador filósofo
encenador, alongou devaneios após devaneios, decénios após decénios,
no comummente designado intermédio pós modernidade.
Acabou por colher louros impossíveis,
estatuetas áureas, Pulitzer, Nobel.
Criança que mais não desejava senão ouvir pássaros,
na manhã, a louvar infindavelmente.
-
Jogue-se a céu aberto futebol:
Seja o imenso estádio,
estrondosamente iluminado,
indefinidamente prolongada festa,
que os canais televisivos dêem em directo.
-
Canto da mulher em Aoxa:
Em Aoxa sou feliz pois ando com quem muito bem quero.
Todos os dias trabalho com o meu asno transportando víveres.
Podem filmar para a Euronews que em Aoxa sou feliz.
Digam que é vida menor a paisagem destes dias,
que aqui não passou o tempo…
Que em Aoxa sou feliz.
Vem, burrinho amigo, não trates com à vontade com os humanos.
Passaste um dia sobrecarregado, mas já vem aí o nosso homem.
Recolhamo-nos à casa.