segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CAPELA SANTA ANA















4 comentários:

  1. Quando o castanheiro floriu,
    a antiga angústia se desvaneceu.
    -
    O carteiro Candeias,
    mais conhecido por flaviense, conversador, ou vagaroso,
    apregoa, a todo o mundo, maravilhas do melhor presunto,
    desde que por Chaves passou, uma ocasião, uns oito dias.
    -
    Raúl, o soba negro,
    pra pedonal Rua Vasco da Gama, na Quarteira, desterrado,
    Índias fuma, em acabrunhado distúrbio.
    -
    Grupo Desportivo de Bragança: Longa era a marcha
    até lá, amplo o descampado.
    28 de Maio: Convivas abancados,
    sobre pedra.
    Ginásio de Alcobaça: Para uns o resultado
    acabava por dar certo:
    De tantas paragens vindos,
    saboreávamos, reunindo-nos,
    quase destino, o ar domingueiro.
    S. Luís: Aparício tentava repor a verdade nos descontos,
    mas os passes, para a grande área,
    não resultavam como queríamos.
    Bonfim, Setúbal: Vitorioso disparo, o do Henriques;
    e o sol explodiu.
    -
    Cerejais: A graça e a luz: Beethoven por telhados aluados.
    Trindade: Horror ao escuro, cultivos, ledos campos;
    a escola, paredes-meias à casa;
    jovens criadas, bambas cadeiras, luxúria, um crucifixo.
    São Salvador: Brinquedos destroçados, nevões a largo.
    Vimioso: Nasce-nos um irmão; lavagens, toalhas, azáfama, água morna.
    Alfândega da Fé: Leituras nas longas tardes.
    Escadarias, sobrados esfregados, tralha acumulada por pátios,
    velhos trastes, empenados gradeamentos.
    Coimbra: Sótão pra ideias, escritos a esmo,
    duro afã, desalento, e reerguermo-nos.
    Braga: A desoras a voz da bela explicadora.
    Cardanha: Sob cobertores-de-papa: Manuel Ângelo, ainda lês?
    Eu com os pascoais Belo e À Minha Alma… Vá, apaga a luz, e dorme!
    Lisboa: Clara nuínha no banho,
    baques infantes, encantamento.
    Cem Soldos: Ecoa hora o relógio antigo;
    inaugural sorriso, p’la manhã.
    Quarteira: Abertas à luz janelas e varandas.
    Leiria: Noctívago revolver versículos; risos e ledices.
    -
    Do Tua a Bragança: Vinhedos, fragas, urzes,
    giestas, estevas, monte, o Taunus verde torneando curvas.
    Do Porto a Barca d’Alva: Acompanhávamos o curso d’oiro.
    De Coimbra a Lisboa: Por férreas estruturas revolvemos poemas.
    De Setúbal a Faro: Se por demais sobrecarregados,
    lançávamos janelas fora olhos emocionados.
    P’lo Vale da Vilariça: As mesmas histórias,
    vezes incontáveis.
    Até ao Bois de Bologne: Pra trás ficou o vão tremor.
    Portela/Zurique: Enquanto a Swissair nos tem na refeição,
    ternos se nos evolam os gestos lentos.
    Funchal/Portela: Rectângulos sob relâmpagos,
    mondriânicas extensões.
    Caído a solo alado pé,
    devolvíamos ao deserto local viajados traumas.
    -
    Então, muito bom dia! E ninguém responde.
    Os bons dias estão mesmo p’la hora da morte.
    Ainda se fossem as boas noites, estou como diz o outro.
    Será por ter chovido muito ultimamente?
    É caso pra perguntar.
    -
    A uns sapatos luva:
    Por onde não andastes ou andastes
    nos dissestes.

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  2. Périplo Navegante ( continuação ):

    Irmã Lúcia,
    no meio de nós.
    -
    Missa sobre o mundo,
    renascendo madrugadas.
    -
    S. Martinho do Bispo, ao adro;
    grama, hera, erva, musgo.
    -
    Santa Cita
    doravante habitamos.
    -
    A mansa pombinha
    bicou na palma da mão.
    -
    Volta da Pedra,
    inaugurais carreiros a ar livre.
    -
    Vale da Vilariça:
    Eclosão da maior alegria,
    estreita-me d’apertado laço.
    -
    Bencanta,
    sótão a alumbramentos;
    atentado premeditado contra Isaac Rabin;
    Mãe, como desculpas!
    -
    Eu nasci num país posto no mar:
    Gaivotas guiam-me o leme
    estafadinho a rumar.
    -
    Camponesa,
    cara rasgada, escava duro ardor, óptimo nada.
    -
    Do snooker
    a partida imprevisível.
    -
    Missão
    cada hora.
    -
    Bordel,
    e mofo.
    -
    Meu velho,
    devaneando pela Idade Média sãs certezas?
    -
    Sinfónicos policromáticos chilreios…
    Anda, e ouve, Messiaen!
    -
    Domingo único,
    açucenas, calmas.
    -
    Monsaraz;
    ante isto, nada és, poetastro.
    -
    Comporta:
    Maresia, navegações, sargaço, extensíssimo areal.
    -
    Ser-se
    sem peso.
    -
    Ilha do Arcanjo;
    árida vereda, livre toada, árido verso.
    -
    Porto Formoso,
    no coração do verde chá.
    -
    Faial,
    abalo ou convulsão, céu estrelado, às lavas.
    -
    Da Horta à Madalena
    vela enfunada leva-me o branco nada.
    -
    Pico revisto,
    com vides, penhas, entrechos basálticos.
    -
    Nos Capelinhos
    gravar teu nome, à flor cinza,
    na costa do relevo.
    -
    P’lo Canal
    frágil veleiro
    vai lieiro.
    -
    A Senhora da Guia
    voo me acompanhe à vivaz luz.
    -
    Flamengos,
    bodes, asininos, bovinos…
    Quando não agrícola empresa, familiar gestão.
    -
    Em Angra, nas proximidades do Museu,
    decifrar línguas d’arrulho
    a cúmplices pombos,
    num vagaroso sono,
    sob céu nítido.
    -
    Jardim Duque da Terceira,
    com nuvens às farripas, iguais a pétalas.
    -
    Da Angra à Praia da Vitória
    p’los olhos se afundam
    excessivas lindezas.
    -
    Luz demasiada
    rota da alegria;
    maternal coração
    timidez vencida.
    -
    Biscoitos;
    num terraço
    ajardinados vasos.
    -
    Feteira:
    Um chafariz,
    uma inscrição,
    um toldo.
    -
    Zdenka Cecília Schelingová,
    quantos comunistas estarão sorrindo
    contigo
    por teu perdão?
    -
    Santa Cecília,
    embala-nos
    celestes polifonias.
    -
    Clara
    fins clareia.
    -
    Clotilde
    constrói forte.
    -
    Seldon;
    é milagre só a obra.
    -
    Madalena:
    P’lo sussurro da voz O conheceste:
    Não era o hortelão.
    Rabboni!, ’xclamaste.
    Ele pediu-te que não O detivesses.
    -
    Craveirinha,
    judeu preto devaneador,
    sob quais torrentes acenas?
    -
    Nelson Mandela,
    torturado faminto do melhor,
    porque demasiado te doeu,
    o coração franqueaste.
    -
    ‘Ai saudade!...’
    Flor Cesária Évora dum distante Alentejo ida na revoada.
    -
    Sacada ao fresco;
    estremecerem estilhaçados espelhos
    p’lo fugidio elemento.
    -
    Duras pedras demoradas
    quisera meus versos;
    essência da luz saudosos;
    a embalo de ouvi-los morreria
    p’la memória que dormem animados;
    na praça única os saboreei divinos;
    mel no céu da boca dum bambino.

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  3. Aí acima estás,
    erguido à cruz, em Teu lugar de dor.
    Dura dor Tua dor,
    que é dor, e morte vida,
    por estares aí assim,
    morto e trespassado.
    Mas arrebatasTe-nos até a Teu tão alto aterro.
    Em dúvida a Ti venho, faminto desolado
    na busca da Esperança que ficou
    desde a Tua vitória sobre o Fim.
    DesTe ao bom ladrão lugar cimeiro,
    à direita imensa dO Pai.
    Vá conTigo também meu coração.
    -
    ‘A verdade far-vos-á livres…’
    Libertará aqueles cujos nomes constam do Livro da Vida,
    porque passaram a grave tribulação: Suas túnicas, branqueadas
    no Sangue do Cordeiro, torturados, gaseados, cremados,
    cinzas dispersas, da ignomínia reviverão.
    Crês isto, contra senãos e desesperanças?
    ‘Adeus, Príncipe, pela primeira vez encontrei um homem!’
    -
    ‘A ti, sentinela, constituo vigilante da Israel Família…’
    Não te escuses repetindo: Acaso respondo p’lo irmão?
    Se não o alertares, e ele cair, com ele cairás.
    Se não fizeres soar a trombeta, haverá ruína na casa:
    A ti pedirão contas. Se não proclamares o aviso em tempo,
    às profundas pagarás pelos teus porque não vigiaste.
    Se fizeres soar o som, o Seixinho Branco, que firmas no punho,
    te encherá, com redobrada alegria, transbordando paz.
    Que a Rocha te não destrua; aponta-A.
    Ela te será o bem mais precioso,
    o tesouro escondido, por que tudo deixaste.
    ‘Senhor, eu não sou digno de que reparTas pão comigo,
    descansado sob meu tecto,
    mas a uma só palavra Tua,
    ou a um único aceno Teu, eu serei outro.’

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  4. Para quem visitar esta capela e não gostar dela, lembrem-se que nem sempre as decisões de quem manda representam a vontade (geral ou maioritária) de um povo.

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