segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ESCOLA PRIMÁRIA







3 comentários:

  1. O Diabo tem cornos?
    Ele nunca foi casado.
    Usa forquilha?
    Ele nunca trabalhou.
    Diabo e Ana Pandilha tramaram abrupto filhote que não tinha coração.
    Disto, Dom Diabo interpela bom Deus:
    Vais mesmo deixar nosso filhote vir a mundos sem coração?
    Desliga o bom Deus, sem retorquir.
    Nasce, e cresce, e se faz algo o cornudo cachopo descorçoado.
    Num baque dos Seus, bom Deus ao estranho petiz vai notificar:
    Rabino Moço, sabes, dentre sideral espaço que com bondade administro,
    dum astro chamado Terra? Queres tu ir pra lá?
    Promete portares-te bem e cuidares vidinha.
    Prometo, prometo, corresponde à prédica o enfeitado rebento.
    De quejando trato resultou
    aqui cair o famoso Filho do Diabo.
    A que chegou a sinistra criaturinha das trevas?
    A dar-se à singular empresa
    de gerir um porco tasco
    numa frequentada esquina.

    ResponderEliminar
  2. Póvoa de Varzim,
    alma d’Anto jogral eternizou teus pescadores,
    gorros à banda.
    -
    Régua,
    vinhedos coloram maravilha única.
    -
    Porto,
    escorrerem lágrimas por escadarias:
    Cai estrela!
    -
    Cidade Rodrigo:
    Inúmeros relógios compactados.
    -
    Trancoso:
    De um dia pra outro árvores engalanadas.
    -
    Los Angeles,
    de luz por sobre a escrita, e lá por fora.
    -
    Santo Domingo,
    com pombas, em bandos, até à sombra.
    -
    Foz Côa,
    e sua rupestre, baçal geometria.
    -
    A S. Bento, à Rua das Francezinhas,
    será qu’ecoa o oco?
    -
    Aristides Sousa Mendes:
    Chamas-te Manuel, podes partir,
    voo prosseguir.
    -
    Málaga:
    Desmaiam embalos adormentados mastros de embarcações.
    -
    Transluz
    correspondido afecto
    a faces;
    imprevistos despoletar
    em teu pasmo,
    burgo mordaz?
    -
    Mealhada,
    chanfana, enguias, leitão, carrascão, mel;
    melancólico restaurante.
    -
    Tocha;
    raras tardes estivais; saudosa devação.
    -
    Beja:
    Andadas à boleia vastidões da noite,
    achámo-nos nos BV.
    -
    Guarda,
    devaneios ligeiros, amoras, silvas, cardos, neve completa.
    -
    Por Seia,
    ao primeiro pão quente, acodem-nos operários sonhos.
    -
    República Ai Ò Linda,
    a WC
    mandam caloiro clamar Camões.
    -
    Contra a contumácia,
    imo-nos, de mãos dadas.
    -
    Cáceres,
    sobre pedras
    teima chuva.
    -
    Sevilha,
    um mergulho ao pé dum jorro;
    libelinhas, nenúfares, vida inteira.
    -
    Em Valverde,
    por raros livros soletradamente paramos.
    -
    Cultivar
    cenoura, gosto telúrico.
    -
    No Teatro Sousa Bastos
    o perturbado psicólogo
    vê um filme neo-realista,
    a libido manifesta.
    -
    La Coruña, 63,
    nevoenta antemanhã, encantados Juan, Ramón, Jiménez,
    Platero, e eu.
    -
    Sintra, áleas:
    Plátanos, negrilhos, pinhos, noite dentro.
    -
    Lisboa, Príncipe Real:
    César Monteiro, boceja, canta,
    louco d’asilo tenebrosamente vaiado e anulado.
    -
    Bornes,
    augusto mundo meu dos áureos altos;
    onde pairo, boquiaberto prò divino.
    -
    ‘1, e 2, e 3,
    era uma vez um soldadinho…’
    Nem foi à guerra nem voltou à terra.
    Andou caminho.
    -
    ‘No tempo da eira fazia poeira…’
    Disparada entre tantas a estrelinha
    a que da cerca surpreendemos giro.
    -
    P’lo lago,
    libelinhas, a pique, num ápice, fulminam.
    -
    Monte Agudo;
    pombas p’lo ar aberto.
    -
    Extensões de Valença;
    rafeiro fugitivas presas investiga,
    a raro faro.
    -
    Curvaceiras;
    rumorejarem folhas; madureza a rever.
    -
    Bonfim
    mói calmas.
    -
    Tomar, Trav. da Misericórdia, 14, 1º, Esqº:
    Da janela ao empedrado sinistro pulo.
    -
    Portugal em fogo,
    coração cinza devorado.
    -
    Vila Viçosa
    da ressurreição.
    -
    Sonhadas Palavras, Ângelo Ochôa

    ResponderEliminar
  3. -
    Montes
    dormentes,
    giestas
    vergando-se;
    uma fonte
    na neve;
    imensa urze;
    verdes
    castanheiros,
    ouriços
    carregados.
    -
    Dá trabalho ter a casa em dia.
    Até correr cada compartimento,
    e achar cada coisa em seu lugar.
    Há sempre um papel a jogar fora.
    Tua casa esteja em ordem.
    Arruma-a, cada vez que precise.
    Guardes lá um recanto onde medites.
    Livros, palavras, sons
    para as horas mais longas.
    Que o mundo se restabeleça,
    ao contacto fresco das paredes da paz.

    ResponderEliminar