segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Capela São Sebastião































3 comentários:

  1. Queridas graças,
    tudo de bom pra vocês,
    que quero dum amor
    tamanho quanto o ar.
    -
    ‘A estrela de Belém
    é hoje ainda
    numa noite escura…’
    Dissipe-se ’ora,
    com o transluzir cimeiro à gruta,
    a vã angústia.
    -
    Quando o Reino de Deus
    chegar de vez,
    os padres ficarão desempregados,
    o Papa entreter-se-á
    um tempo imenso
    a fazer bolinhas de sabão.
    -
    O Cobrador das quotas do CCS
    há uns bons anos
    que a más horas chega indesejado.
    Das prestações dos últimos trimestres
    me crava em euros novos à socapa.
    Dava-me, entrementes,
    a costumado ioga espanhol.
    Retirado o bigodado gajo,
    em vão leito retomo,
    revoltando-me para outro lado.
    Ai de mim, que da urdidura
    o fio libérrimo não mais reato.
    -
    A rapariguinha do pub,
    entre copos solícita, amaro idílio nutre.
    -
    Tarefas com o Partido:
    Só quando desceu
    para ir à reunião,
    esperavam-no,
    deu conta de que enfiara,
    na hora,
    o pulôver americano.
    -
    Boi exausto
    os cornos
    investe
    a delir sonhos
    ideais.
    -
    Filha,
    que
    a Sírio tua
    fulja.
    -
    Então um muito bom dia com sol por aqui
    e com uma muito boa noite pela metade
    escura que agora está no outro lado
    alfinetada por mil pontinhos luas.
    -
    Pedrinhas da calçada por onde,
    solas gastas, sapatos a arrojos vão.
    Abrigam-se-me
    sob elas
    sumidas visões.
    -
    A fresca hora,
    Yolanda irrompe,
    apertando o cinto,
    p’lo Café.
    Um seu poema me pede,
    mas demoro-me a pari-lo pra papel,
    ruminante fatal duns versos múltiplos
    pra acertar contas a sorrisos.
    Se tanto a cansa se compor,
    porque não pernoita vestida na praceta,
    no aconchego das ignoradas estrelas?
    -
    Traseiras do Liceu, 4 da manhã:
    Como habitualmente, uns dois padeiros apartando
    pão em cestos, sacos, carrinhas.
    Mas eis que há novidade:
    Chegou o grande dia da viagem dos finalistas a Espanha.
    Uns madrugadores pais esperam já, mais seu menino,
    p’lo autopulman contratado.
    Mas o menino está nervoso e mal dormido.
    Desloca-se muito de um lado pra outro,
    não sabe que fazer dos pés.
    Mais pais, mais pais, mais pais e mais paizinhos,
    e mais meninos e meninas.
    Já não há onde arrumar mochilas, sacos e malinhas.
    Basbaques uns, e umas, outros, e outras, fumando,
    ou disfarçando pasmos com beijinhos.
    Boa antemanhã para o Joaquim guarda-nocturno:
    Se está entregue a praceta,
    pode por hoje ir mais cedo pra casa.
    -
    Com modorra vai o tempo.
    Alvuras tingindo dia.
    Preguiçosas ternuras avançando.
    -
    Alguém grita dentre silêncio;
    estores, seco estampido;
    a um carro na via algum cão ladra.
    -
    À sombra do companheiro no roxo ocaso,
    caída sobre rugosa terra, descansadinha,
    nutres com sonhos meus devaneios turvos,
    dás azo à música que soa p’lo ar nublado,
    és carne da loucura que me mantém.
    -
    Ignorado elo cambiante
    espera que se quebre verso?
    Som a remexer torpe ouvido?
    Melodia não transcrita?
    Correnteza extraordinária?
    Arrumador de tabacos
    na maquineta automática
    relata idos com
    manguchi independentista.
    -
    O escriba do olhar abrangente
    resolvera acabar letrinhas
    e abismar-se.
    -
    Nas mãos seguro,
    o livro a aluna lê,
    a resolver-nos.
    -
    A pomba do Santo ’Spríto
    voa-nos da lapela
    ao meio-dia em ponto;
    linguagens a melros,
    poupas
    e outras aves sonda,
    após regressando.
    -
    Está cá um encantamento por aqui!
    Puxaram p’lo sol todo pra baixo?
    Ou o sol anda lá p’lo outro lado?

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  2. João Cabeçadas:
    Cruzar mares a todo o risco;
    e fitar a enseada chegando.
    -
    Daniel Pires,
    diversa ‘entrada’ acrescer
    ao caos burguês?
    -
    Calafate
    dedilha guitarra sublime,
    entoa trivial trova.
    -
    Carrapatoso,
    declaradamente ateu,
    enquanto vai degustando sardinhas,
    engendra um Glória.
    -
    Manuel Bola,
    calçados voadores sapatos,
    sustenta surpreendentes actos.
    -
    Asdrúbal,
    a voz cava, mói abisso.
    -
    Portugal Silveira
    pretexta subliminar sucesso
    pra atirar,
    a nacos áridos,
    carónica.
    -
    João Calceteiro,
    porteiro reformado,
    intervala laboradas oitavas
    com orientações a estacionamento.
    -
    Se pra conquistar-te amor
    tivesse eu que me morrer,
    para ser teu desde agora
    nem nado quisera ser.
    Como não hei-de te amar?
    Favo loiro, meu tesouro,
    sonho claro a despontar.
    -
    Achamo-nos,
    Domingo de Páscoa,
    numa terra desconhecida.
    Em casa estranha acolhidos
    assam-nos peixe no lume do chão
    pra celebrar o dia.
    Consigo ligar ao pai e à família distante acertando
    incrivelmente num número p’lo telemóvel.
    Acabamos enfim por reunir-nos, ignoremos
    embora o quanto rondará no cômputo a despesa.
    Acidentada viagem trouxe até nós a irmã,
    p’lo Expresso, rasgando ravinas.
    -
    Tarde é o copo que bebes cheio ar;
    noite o sono que dormes amado nada;
    antemanhã a espera e a certeza;
    já a manhã os olhos te devolve.
    -
    Amacia o coração roupa ajustada;
    acaricia mãos água lavada;
    ameiga face o ar da rua;
    amansa temores a plena lua.
    -
    Crê,
    é dia;
    os cotovelos
    fincados
    na janela.
    -
    Meu céu
    a hora
    entrada;
    minha rosa
    chaga aberta;
    riso ruivo
    o gergelim.
    -
    Estremadura;
    seca aragem;
    campestre paisagem;
    o bicho, tão calmo,
    não cabe em si.
    -
    Manuel Bocage:
    Doída eternidade,
    doido coração, és minha!
    Zoilos, zarpai!
    Abraça-me a Rainha!
    -
    Granja:
    Devora noites milenares
    meigo monstro jacente
    sobre liteira enorme
    no aquático fundo.
    -
    Burga,
    dos temíveis raios.
    -
    Nazo,
    feira,
    pastoso pó,
    posta,
    dinheiro grosso.
    -
    Torrão,
    nem uma folha
    bulindo.
    -
    Vontade de
    explorar aventuroso
    interior a assoalhada.
    -
    Estádio em Braga:
    Asas a rasgar céu,
    a arrojados golpes
    pedra,
    a escancarar alma.
    -
    Nem fiz guerra
    nem sei guerra.
    A-M.
    -
    Sertã,
    sobre água límpida
    corrente.
    -
    O indizível
    completar-se por toda a parte até.
    -
    Estou cá,
    óbvio sobre o solo.
    -
    Que mais sacar aos bolsos
    senão calor?
    -
    Vale Manso,
    completude a olhos dada,
    fluida miragem.
    -
    Sardoal,
    no alto templo soam aleluias.
    -
    Na Herdade do Esporão,
    sobre relvado, à sombrinha.
    -
    Por Janeiro, junquilhos no balseiro.
    Cedinho, com o aclarar, lilases desbastar.
    in
    Périplo Navegante
    in
    Sonhadas Palavras
    in
    http://angeloochoa.net/

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  3. Melrinho fiel, que cedo me visitas, saltitando esvoaçante, a cantarolar
    cantitos puros absolutos, sílabas dum chão empedrado e turvo
    na antemanhã liberta das rosas; vou para filmar, e idealizo uns planos
    picados para acompanhar-te a divagação magnífica, enquanto me deixas
    por erva húmida, antes dum sol desconhecido.

    (Sonhadas Palavras, 2ª edição, 13.viii.2009)

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